Você provavelmente já ouviu falar no polígrafo, um aparelho capaz de detectar mentiras. Ele aparece em filmes e é usado na vida real tanto de forma descontraída quanto séria. O que o teste faz é medir alterações do corpo que são consequência indireta de contar uma mentira: variações na pressão, suor nas mãos e mudanças na frequência cardíaca, por exemplo.

O polígrafo, porém, não é 100% confiável para dizer se alguém está mentindo ou não. O teste basicamente mede o nível de ansiedade de alguém e, apesar de diferenciar mentiroso de sincero melhor do que o acaso, ainda aponta muitas pessoas honestas como falsas. Uma pessoa pode ficar nervosa com a situação, assim como um mentiroso experiente pode conseguir manter a situação sob controle.

O mesmo vale para a linguagem corporal. Pessoas treinadas para detectar mentiras geralmente dependem de vários sinais, como contato visual, duração das respostas e detalhes do que as pessoas dizem, mas manter atenção a tantas informações comportamentais pode dificultar o julgamento. Pesquisadores recomendam que é melhor não decidir a veracidade da afirmação pela linguagem corporal de alguém, mas sim pelo conteúdo de sua fala – especificamente, no quão detalhada é a história.

Essa é a nova abordagem para a detecção de mentiras desenvolvida por um grupo de pesquisadores, em que as pessoas baseiam seus julgamentos inteiramente no nível de detalhe da história contada pelo potencial mentiroso.

“Parece muito contraintuitivo apenas ouvir o que as pessoas estão dizendo e não prestar atenção a todos os tipos de outros sinais, como o quão convincente ou emocionalmente alguém transmite sua história”, explica Bruno Verschuere, pesquisador envolvido no estudo. “Mas as pessoas que dizem a verdade podem dar uma descrição rica porque realmente vivenciaram o evento; já quando os mentirosos tentam apresentar detalhes, correm mais risco de serem pegos”.

Para conduzir seu estudo, os pesquisadores realizaram uma série de experimentos de laboratório, dividindo 44 estudantes em culpados e inocentes. Os culpados deveriam roubar uma prova de um armário, enquanto os inocentes tinham a tarefa de passar meia hora de bobeira no campus. Depois, os alunos passaram por entrevistas gravadas, em que deveriam dizer que passearam pelo campus – mesmo se tivessem roubado a prova. 

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Os pesquisadores então recrutaram 171 pessoas para assistir a 12 dessas entrevistas – seis verdadeiras e seis enganosas. Divididos em dois grupos, metade dos voluntários deveriam avaliar o quanto os entrevistados desviavam o olhar – algo amplamente considerado como um sinal de mentira; enquanto os outros classificariam o nível de detalhe nas declarações.

Os pesquisadores descobriram que, falando a verdade ou mentira, os alunos desviavam o olhar com frequência similar; por outro lado, as declarações verdadeiras eram substancialmente mais detalhadas do que as enganosas, sugerindo uma maneira mais útil de apontar um mentiroso.

Os pesquisadores então pediram a 405 novos voluntários para julgar a verdadeira natureza de outras 12 declarações divididas da mesma forma e escolhidas aleatoriamente a partir das transcrições das entrevistas.

Cerca de metade dos participantes usaram várias pistas para identificar mentirosos, incluindo monitorar detalhamento das declarações, se elas descreviam eventos inesperados e se as pessoas corrigiam espontaneamente suas respostas – algo já relacionado à sinceridade. Eles classificaram o nível de detalhamento das respostas em uma escala de 1 a 10 – acima de 6 já era considerado verdadeiro.

Quem confiava em várias pistas distinguiu mentiras de verdades em apenas 59% das vezes, enquanto quem confiou apenas no nível de detalhes se saiu melhor, acertando a resposta em 66% das tentativas.

Mas a técnica pode ser uma faca de dois gumes – se alguém souber que o nível de detalhe é o seu critério de avaliação, tudo que ela precisa fazer é dar muitas informações. Por isso, na vida real, é ideal que a análise venha acompanhada de uma apuração de pontos do discurso.

“Quanto mais detalhes você dá, mais há para ser verificado, então você corre um grande risco se tentar inventar detalhes demais”, afirma Verschuere.

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