Atração do festival João Rock, que ocorreu no sábado, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, o grupo Os Mutantes se viu em dois momentos distintos. A primeira meia hora foi de pouco envolvimento da plateia, com canções recentes da banda, enquanto os trinta minutos finais contou com uma participação ativa do público, que entoou com força total hits clássicos do grupo, caso de A Minha Menina, Balada do Louco, Bat Macumba e Panis et Circenses. O coro dos fãs ajudou e muito o vocalista Sérgio Dias, 72 anos, único integrante do trio original, composto ainda por Rita Lee e Arnaldo Baptista: Dias estava com bronquite e apresentou oscilações na voz. Nos bastidores, o roqueiro falou, de forma bem honesta, com a reportagem de VEJA.
Como está se sentindo depois deste show? Eu tô péssimo. Estou com uma bronquite inflamatória crônica, tomando antibiótico faz uns 20 dias. Então tô de ponta cabeça, minha voz foi para o espaço hoje. Tô mal, cantei mal, toquei mal. Minha sorte é que a galera foi maravilhosa. Tenho uma dívida imensa com os fãs. Estou com 72 anos, fico vendo gente jovem vindo o tempo todo nos nossos shows, cantando as músicas, são momentos de uma riqueza ímpar.
Não pensou em cancelar o show? Nunca, nunca cancelei um show. Única vez que cancelaram um show meu foi quando eu tive uma septicemia, me colocaram dentro do hospital, aí não consegui sair. Depois de 15 dias, fiz um show em Nova York, com antibiótico na veia indo direto pro coração.
Por que essa postura? É o mínimo que posso fazer, se eu posso fazer, eu faço. Eu sei que tô todo escangalhado. A idade pega. Tô tocando sentado. Mas estamos em turnê, passamos por várias cidades dos Estados Unidos, tenho mais dezesseis shows marcados na Europa saindo daqui. Não paramos um segundo e não temos planos de parar.
Qual o segredo dos Mutantes para sobreviver até hoje? Somos honestos. A gente toca o que a gente quer. Nunca demos o braço a torcer para ninguém, nem para o governo militar, nem para o Dops, nem para ninguém. A gente faz o que a gente quer.
O que acha desse apelo de grupos e cantores veteranos em festivais de rock como esse? Ué, fomos precursores dos festivais no Brasil. Fizemos os primeiros. Está no nosso DNA.
O que ama e odeia nessa vida de estrada? Só odeio aeroporto. De resto, não odeio mais nada. O que eu mais amo é o primeiro passo para entrar no palco. Nunca tive frio na barriga. Fico ansioso por isso, por subir no palco. É onde me sinto mais realizado e feliz.